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Luiza Brunet e a síndrome da gaiola de ouro.


Escrito por Nathalí Macedo, extraído do site Diário do Centro do Mundo

Luiza Brunet teve quatro costelas quebradas pelo então companheiro, o empresário Lírio Albino Parisotto, segundo o jornal O Globo. Ainda segundo a coluna, o empresário teria espancado a ex-modelo quando ela o acompanhava no evento “Homem do Ano“, em Nova York.

Nada novo sob o sol. Uma brasileira sofre violência doméstica a cada cinco minutos.

Mas quando começou a violência sofrida por Luiza? Neste episódio, em um um apartamento em Nova York?

Muito antes, eu diria.

Parisotto está em 28º lugar no ranking de homens mais ricos do Brasil, segundo a Revista Forbes. Luiza, por sua vez, é considerada uma das mulheres mais belas do país.

Neste ponto, precisamos reconhecer: belas mulheres têm sido consideradas parte integrante da fortuna de homens bem-sucedidos, no Brasil e no mundo.

Um homem rico precisa de seu bibelô, de um símbolo sexual que ratifique que ele é, de fato, afortunado. Ter uma mulher dentro dos padrões, desejada pela maioria dos homens – e, consequentemente, objetificada – é parte da estranha e cruel etiqueta da alta sociedade masculina.

Você se tornou um homem rico? Agarre a sua Barbie, compre-a, domestique-a e, por fim, exiba-a.

Woody Allen, de 76 anos e que tem como companheira a filha adotiva de sua ex-mulher, sabe disso. E, para ser ainda mais óbvia, sabem disso o presidente interino Michel Temer e sua jovem e bela esposa Marcela.

O relacionamento entre um homem que é símbolo de riqueza e uma mulher que é símbolo de beleza não pode deixar de ser problemático, porque o “amor”, afinal, é ofuscado pelas convenções sociais que colocam a mulher como parte do status do qual necessita este homem e vice-versa (somemos isto à cultura patriarcal que ainda trata a violência doméstica como um crime menos grave e que quase nunca passa de uma suposição).

Para um homem rico, relacionar-se com uma mulher bela não é um mero acontecimento, é uma escolha que guarda muitas razões. Tanto que há, inclusive, um site de “relacionamentos” (eu o chamaria de um site facilitador de abusos) que conecta mulheres jovens e belas a homens milionários (sim, esse é o slogan): é o Diamond Club, que convence mulheres jovens e cheias de vida de que ter um homem rico é sempre uma boa ideia, porque, afinal, a riqueza está ligada à boa educação, que, por sua vez, está ligada à não violência.

Não é bem assim, e Luiza Brunet sabe disso. A violência contra a mulher apenas muda de figura – a depender de fatores como raça e classe social – mas nenhuma de nós está imune.

A violência contra Luiza começou, portanto, exatamente onde começa a violência sofrida por cada mulher fora das estatísticas de pobreza: quando a sociedade passou a encará-la como um enfeite, como uma mulher de fina estirpe que merecia e tinha por obrigação um companheiro dentro dos padrões estéticos e materiais, aprisionando-a, sutil e cruelmente, numa gaiola de ouro.

Parisotto declarou, em uma nota floreada e bem escrita, que “lamenta a distorção dos fatos.” Em quem a justiça acreditará? Em uma ex-modelo rotulada como símbolo sexual ou em um ricaço que é convidado para o evento Homem do Ano?

Nós, mulheres, sabemos a resposta.

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