Apesar de ser reprovada nos assuntos econômicos, a meritocracia é muito bem aceita quando o assunto é vida afetiva. A vida amorosa depende de quem se vira. Mas quem obedecer certas regrinhas e aceitar o que a grande manada curte nos momentos de lazer, certamente será beneficiado com alguma facilidade.
Infelizmente, a maioria das pessoas não sabe o que é amor. O romantismo está em baixa e foi substituído - mantendo o rótulo de "romantismo", por comportamentos estereotipados. Ninguém tem paciência ou sensibilidade para ficar suspirando pela pessoa amada como se faz nas mais ingênuas comédias românticas.
A vida amorosa virou uma espécie de vitória de uma luta que aparentemente não é fácil. Posar ao lado da pessoa "amada" ficou parecendo a exibição de um troféu, como se cada membro dissesse: "olhem idiotas, o pitéu que eu arrumei. Invejem seus trouxas, ou vão atrás do seu!".
Claro que o processo de conquista não é fácil. Mas para quem segue o gado e faz tudo que a sociedade manda, tudo fica mais fácil. Beber álcool, por exemplo, facilita estrondosamente, pois além do próprio álcool desinibir no começo de seu consumo, bares são consagrados como lugares de paquera, como cartórios são para autenticar documentos, farmácias para comprar remédios e rodoviárias para pegar ônibus.
Gostar de futebol, ter uma religião, curtir aquele "som do momento", ser viciado em festas ajuda muito. Na verdade, principalmente no Brasil, as pessoas adoram aglomerações (motivo de certos surtos individuais durante a quarentena) e certamente os cônjuges vão preferir ficar no meio de multidões do que curtir um momento romântico a sós. Programa chato após a extinção do verdadeiro romantismo.
Por outro lado, pessoas com gostos e hábitos estranhos têm que batalhar muito para arrumar a sua companhia. Os que conseguem são obrigados a conviver com pessoas sem afinidade, já que brasileiros são gado por natureza e a maioria prefere seguir a maioria. Isso torna quase impossível para um "esquisitão" encontrar alguém afinado, tendo que se conformar com um membro de gado.
Para os esquisitos e aqueles que se recusam a seguir a maioria, a conquista amorosa sempre vai ser mais complicada que a das outras pessoas. Afinal, são desertores das "boas regras de convívio social" e por desobedecerem importante regra, são "punidos" por esta dificuldade.
Quanto aos que seguem a segurança de estar no meio da manada, fazendo "o que deve ser feito", há a garantia de muitas conquistas, amor,a amizade, emprego. Até porque muito que conquistamos depende de decisão alheia. Estando no meio do gado, podemos ter mais recursos sociais para conquistarmos aquilo que depende da vontade alheia.
Pode reparar que é muito mais fácil encontrar esquisitos solitários. Mesmo que esquisitos desencalhem, eles tem que fazer concessões, para que possam ser aceitos socialmente, fazendo o que gostam apenas quando estão sozinhos e transformando o lazer em uma obrigação burocrática, onde agradamos os outros para obter benefício.
É assim que funciona na sociedade brasileira e por isso que observamos certas coisas acontecerem. Se o amor existe ou não, a certeza é a de que ele é incapaz de mudar o mundo. Senão as regras seriam totalmente diferentes ou até mesmo não teríamos regras. O amor cuidaria de tudo.
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